Famílias de vítimas acusam CRM de proteger médicos "ruins"
ISA SOUSA
DA REDAÇÃOAs famílias vítimas de erro médico em Mato Grosso decidiram sair às ruas da cidade para protestar contra o que consideram descaso por parte do Conselho Regional de Medicina (CRM), diante dos muitos casos já registrados no Estado.
Na quarta-feira (4), por exemplo, foi realizada uma manifestação de repúdio à proteção que o Conselho Regional de Medicina (CRM) dispensaria aos seus membros, apontados responsáveis pela morte de dezenas de pessoas em Mato Grosso.
De bocas amordaçadas e visivelmente emocionados, pais, filhos e irmãos que perderam pessoas próximas por erros que, segundo eles, poderiam ter sido evitados, pediam nas faixas e cartazes "punição para os culpados e não às vítimas".
O protesto silencioso, segundo a vice-presidente da Associação Paraense Contra o Erro Médico (Aspacem), Ana Lúcia Barbosa, se deve ao fato do impedimento de manifestações em época de campanha eleitoral. "Precisamos nos manifestar, mesmo que seja de bocas fechadas", disse.
Ana Lúcia perdeu o filho de 17 anos. O garoto realizava cirurgia bariátrica para redução de estômago, devido à obesidade, e, pelo fato ter ter sido assistido por uma equipe médica incompleta, teve torção na alça intestinal.
A presença de representantes de outros Estados nesse tipo de manifestação tem sido recurso usado constantemente pelas associações de vítimas de erro médico, que buscam união para futura mobilização nacional. Em Cuiabá, além da presença de Ana Lúcia, a Associação de Familiares Vítimas de Violência de Mato Grosso (AFVV) apóia o movimento.
De acordo com Epaminondas Batista de Almeida, pai de Heide Aparecida de Almeida, que morreu em 2008, após cirurgia para correção do nariz, o protesto é um marco na luta de Mato Grosso. "Precisamos criar meios de coibir que esse tipo de erro aconteça. E, para tanto, precisamos, primeiramente, nos mobilizar entre os Estados, para depois levar as propostas à Brasília", informou.
Segundo a vice-presidente da Aspacem, as principais reivindicações que serão levadas à Brasília são a obrigatoriedade de caixas pretas dentro dos boxes cirúrgicos e delegacias especializadas em erros médicos.
Além de Cuiabá, sete capitais já se manifestaram, sendo a mato-grossense a única a ter o protesto silencioso. São Paulo e Rio de Janeiro devem ser as próximas cidades onde ocorrerão manifestações.
Bisturi fatal
Um dos casos mais polêmicos de erro médico envolve o médico cirurgião Samir Khedi. Ele foi condenado por homicídio culposo (sem intenção de matar), por ter cometido erro médico durante um procedimento cirúrgico que levou à morte de Rosimeire Aparecida Soares, no final de dezembro de 2007.
O laudo emitido pelo Instituto Médico-Legal, na época, comprovou que houve erro médico, uma vez que Rosimeire morreu de choque hipovolêmico (perda de sangue), provocado por lesão na veia cava inferior, em consequência de uma perfuração.
A gerente administrativa se submeteu a várias intervenções cirúrgicas realizadas por Khedi, entre elas: lipoaspiração do abdome e no culote, enxerto nas nádegas e na panturilha, correção de nariz e axila.
O Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJ/MT) concedeu liminar que fixou o pagamento de pensão de alimentos ao menor L.V.S.N.A, filho da gerente Rosimeire.
O Conselho Regional de Medicina (CRM) condenou Samir Khedi à censura em publicação oficial pela prática de imprudência, após ter sido acusado de erro médico.
O cirurgião foi condenado pela Justiça a um ano de detenção, com aumento de quatro meses por inobservância de regra técnica da profissão, totalizando um ano e quatro meses de detenção.
Por não ser reincidente, a detenção foi revertida em prestação de serviços à comunidade, no Hospital do Câncer, durante um ano, com oito horas semanais, inclusive, aos sábados. Além disso, o cirurgião foi multado em dez salários mínimos.
Outro lado
O presidente do Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso (CRM-MT), Arlan de Azevedo Ferreira, agendou para a próxima segunda-feira (9), uma entrevista coletiva para apresentar o balanço das denúncias e processos sobre erro médico no período de janeiro a julho deste ano, além dos resultados de anos anteriores.
Fonte: Repórter MT
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